Phillip Morris: caminhando para o ESG? - Valuation por DCF (PM/PHMO34)

A Empresa

A Philip Morris International Inc., é uma empresa que produz e vende cigarros e outros produtos à base de tabaco e nicotina. Ela controla grandes marcas como Marlboro, Chesterfield, L&M, etc e está presente nos EUA e Canadá, União Europeia, Europa Oriental, Oriente Médio, África, Ásia e América Latina. 

Nos últimos anos a empresa decidiu por desenvolver e comercializar produtos que não envolvem a queima do cigarro, e sim, seu aquecimento. A diferença dessa abordagem para os e-cigarretes, é que ao invés de usar como substrato um líquido com nicotina aquecido e vaporizado, os produtos HTU (Heated Tobacco Units) da empresa apenas aquecem um “cigarro” de tabaco, produzindo vapor por meio desse processo. O IQOS (a marca de HTU da empresa) já representa 23,8% da receita total da empresa, que almeja aumentar essa proporção para 50% até 2025.

\\\*"We are leading a transformation in the tobacco industry to create a smoke-free future, based on a new category of reduced-risk products that, while not risk free, are a much better choice than continuing to smoke. Our goal is to ultimately replace cigarettes with smoke-free products to the benefit of adults who would otherwise continue to smoke, society, the company and its shareholders."\\\* (PMI, 2020)
Receita líquida da empresa por setor (RRP = Reduced Risk Products, e.g. IQOS)
Receita líquida da empresa por setor (RRP = Reduced Risk Products, e.g. IQOS)

A História

A empresa, assim como outras Big Tobacco, participa do mercado maduro de cigarros. Para continuar existindo de forma eficiente, a empresa decidiu que tentaria adentrar o mercado de RRP, esperando que a grande maioria das suas receitas totais sejam de RRP até 2035. Contudo, a empresa declarou que continuará no mercado de cigarros, desde que haja demanda, pretendendo continuar sendo um dos líderes setoriais.

Para que a firma tenha sucesso nessa empreitada, ela precisa que os consumidores já estabelecidos de cigarros convertam-se em usuários de HTUs e, também necessita que o seu produto seja apelativo para novos consumidores. 

Vale ressaltar que em diversos países a PM conseguiu que os seus produtos HTU recebam uma taxação diferenciada (tipicamente menor do que a do cigarro convencional), já que não se classificam como cigarros.

A empresa possui quase todo o seu R&D voltado para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos RRP, contudo, esse montante, embora esteja crescendo, corresponde a menos de 2% de sua receita.

Esse movimento de inserção nos RRP pode ser visto como uma iniciativa ESG da empresa, que pode acarretar em uma criação de valor positiva para a empresa.

Destaques financeiros

Destaques financeiros da Phillip Morris
Destaques financeiros da Phillip Morris
Últimos 3 anos da PM
Últimos 3 anos da PM
Vale ressaltar alguns pontos de interesse:
  • A empresa tem uma receita estagnada/decrescente já que está envolvida principalmente no mercado de cigarros (mercado maduro, em tendência de encolhimento);
  • Suas margens foram relativamente estáveis longo do tempo;
  • A empresa paga a maior parte do seu caixa gerado nas atividades operacionais como dividendos para os acionistas;
  • O CAPEX da empresa está principalmente relacionado com os RRP.

Além disso, um dado não presente nos dados acima é que a empresa possui rating A nos títulos de dívida (Fitch e S&P).

Como a atual iniciativa ESG pode afetar o valor da empresa?

Tipicamente empresas de tabaco - especialmente as Big Tobacco como a PMI - tem prêmios de risco para o levantamento de capital próprio maior que outras empresas (investidores são mais relutantes a investir nelas, demandando mais retorno). De forma similar, mas menos intensa, isso também ocorre no levantamento de capital de terceiros (dívida), com prêmios de risco maiores. 

Além disso, o consumo de cigarros propriamente dito vem decrescendo mundialmente (assim como a receita da PMI), enquanto o consumo de substitutos menos danoso à saúde tem aumentado. Essa relação está, no momento, mais presente em consumidores de cigarros premium (mais caros) tipicamente nos países ricos, afetando diretamente a principal base consumidora da PM. Esse movimento de RRP pode contribuir para um crescimento melhor da empresa, offsetting a perda de receita pelos cigarros tradicionais.

Contudo, esse tipo de produto é tipicamente mais caro que os cigarros convencionais (incluindo os do tipo premium), logo, é provável que a empresa tenha de incorrer em margens operacionais menores - pelo menos no curto prazo - para que a adesão desses produtos tenha mais sucesso.

Em suma:

  • A empresa terá um custo de capital menor;
  • O crescimento será menos decrescente, potencialmente positivo;
  • A firma poderá ter que conviver com margens menores, pelo menos no CP.

A Valuation

Utilizei uma taxa livre de risco de 1,72% a.a., valor da taxa de juros das T-Bonds de 10 anos. Para o Prêmio de Risco para Equities (Equity Risk Premium - ERP) utilizei o valor de 5,6%, correspondente ao ERP global.

Para o beta da empresa, foi utilizado o valor de 0,55 para o beta desavalancado (sem o efeito da dívida), equivalente à media do setor. Levando em conta a dívida, o beta é de 0,65. Isso faz com que o Custo de Capital Próprio (Cost of Equity) seja igual a 5,53% e, levando em consideração o rating A para a empresa e o seu spread de risco associado (0,73%), temos um custo da dívida após dos impostos de 1,81%. Ponderando esses custos, temos um WACC de 4,67% para a empresa no médio prazo. (Na fase de crescimento estável diminuo o WACC em 7%, levando em consideração os efeitos positivos da empreitada ESG da empresa).

Para o crescimento da receita foi usado 0,5% entre os anos de 2021 e 2025 e 1% para os anos acima de 2025. Isso é baseado no fato de que as receitas declinantes que a empresa tem enfrentado no CP no mercado de cigarros serão balanceados com um leve excesso pelo aumento das vendas de RRP (mercado cuja projeção de crescimento para os próximos 6 anos é de por volta de 20% a.a.). 

A empresa também verá suas margens declinando devido à competição no novo setor e ao processo de conversão de consumidores de cigarros para RRP, implicando em pressões negativas no preço dos produtos. Nessa mesma linha vemos a redução do seu ROC para níveis ligeiramente abaixo da média setorial para o mercado de tabaco.

Com isso chegamos em um valor para o patrimônio líquido da empresa de 189 bilhões de dólares. O valor por ação é de $121,40. Isso corresponde a um aumento de 38% em relação ao valor atual, podendo ser considerada como uma boa oportunidade de investimento.

Segue abaixo o output completo do modelo de valuation por DCF.

Obrigado pela atenção!

Destaques financeiros da Phillip Morris
Destaques financeiros da Phillip Morris
Felipe Queiroz
Felipe Queiroz
Associado na Liga de Mercado Financeiro PUC-Rio

Estudo Economia na PUC-Rio e sou Associado na Liga de Mercado de Financeiro da PUC-Rio. Gosto muito de programação, economia e finanças.

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